Essa semana, a imprensa mourãoense divulgou a notícia de uma garota da cidade que conheceu um rapaz, foi dar uma volta de carro com ele e foi agredida a marretadas. A notícia já é suficientemente chocante, mas os comentários, tanto na chamada da matéria, no Facebook, quanto na própria matéria, são estarrecedores.
“Bem feito”, “servir de lição”, “se valorizar”… Em nenhum desses comentários o homem que deu as marretadas é o culpado. Por que o homem pode se dar ao direito de passear com alguém de carro em um primeiro encontro e a mulher, não? Quantos de nós saímos com alguém de carro na primeira vez que o/a vemos? O que mais assusta é saber que TODOS os comentários que acusavam a moça pelo ocorrido são de mulheres.
Precisamos mudar o entendimento da nossa sociedade de que nós, mulheres, irmãs, amigas, não temos o direito de ir e vir quando e com quem quisermos. Da maneira que quisermos. Do mesmo jeito que os homens têm esse direito – e o usam diariamente –, também deveríamos poder ter. Então, qual o problema?
No site em que a matéria foi divulgada, um dos comentários dava, inclusive, razão ao homem que realizou o crime:
Mesmo que a garota soubesse ‘o que o cara estava querendo’, ela tinha o direito de mudar de ideia. Em qualquer momento. Mas estamos numa sociedade tão acostumada com o machismo que achamos que a errada é ela. Que saiu com o cara, que desistiu na hora, que não se deu o valor. Que valor? Quer dizer que alguém que usa burca vale mais que alguém que usa minissaia? Pois é, não é bem assim, como podemos ver nesse vídeo produzido por comediantes indianos que motra a onda de estrupros no país. E, claro, a culpabilização das vítimas, as mulheres: https://www.youtube.com/watch?v=sv3-0xEP0CE.
Como podemos perceber, a culpa é muito mais uma questão cultural, de poder usar alguém como ‘exemplo’ e lhe cercear a liberdade, do que a culpa realmente. Afinal, que atire a primeira pedra quem nunca aceitou carona de alguém que acabou de conhecer.