Já não bastasse a situação – a mulher é estuprada e encontrada inconsciente pela polícia – seu corpo ainda é exposto pelos meios de comunicação da cidade. Com o rosto ‘escondido’ pelas granulações da foto, mas ainda assim, exposta. Jogada, sem cuidado e com a permissão da polícia que estava atendendo a ocorrência.
O mínimo que esperamos das autoridades – em especial da polícia – é que nos proteja. Que quando não for possível evitar que algo nos aconteça, pelo menos mantenha a nossa integridade. Não nos exponha.
Na última semana uma mulher foi encontrada pela polícia mourãoense inconsciente, com um homem com as calças abaixadas, estuprando-a. Apesar da imprensa mourãoense afirmar que se tratava de uma tentativa de estupro, expliquei, na coluna anterior (veja aqui: http://blogdoraoni.com/coluna-da-paula-fernandes-e-estupro-ou-nao-e/) que se trata, sim, de estupro. Falar que não é minimiza uma situação bastante grave.
E, depois de encontrar a mulher e prender o homem, a polícia autorizou que ela, mesmo inconsciente, fosse fotografada pela imprensa da nossa cidade para que fosse exposta nos meios de comunicação, posteriormente. Que polícia é essa que permite que uma mulher seja abusada duas vezes, uma pelo homem que a agrediu e outra pela imprensa local, que a expõe de maneira desumana?
Nós, mulheres, queremos, merecemos e precisamos de mais respeito. De todas as instituições da nossa sociedade, em especial daquelas que detêm algum poder.
Gilson Góis
7 de outubro de 2015 às 19:57
Paula, concordo plenamente contigo. Atentaram contra a integridade dessa mulher várias vezes. Contudo, caríssima, aproveito para externar minha indignação com (des)nível de alguns “profissionais” da imprensa de Campo Mourão, que primam pelo sensacionalismo e pelo choque de imagens, que na maioria das vezes vitimizam quem já é vitima ao expor ao público uma situação, que geralmente por si só já seria traumática, mas que é multiplicada pela publicação.
Sobre a polícia, bem… creio que ela representa fielmente a crise de valores pela qual passamos.
Meus respeitos e minha admiração pela coragem de externar sua indignação.
Renata
8 de outubro de 2015 às 10:18
Muito pertinente seu texto Paula, realmente é inadmissível que uma vítima de violência seja exposta desta maneira, sendo vitimizada duplamente.
Também quero manifestar minha indignação, pois este é um fato recorrente em alguns órgãos que se dizem “de imprensa”… a forma deplorável como expõem vítimas de acidentes, por exemplo, eu acho um absurdo!!!
Paula Fernandes
15 de outubro de 2015 às 1:32
Renata e Gilson, grata pelos comentários! :) Eu, como jornalista, fico bem chateada com o posicionamento de parte da imprensa mourãoense. É preciso melhorar muito. Quando cursei a faculdade, tivemos uma palestra com uma repórter de TV que sempre mostrava vítimas de maneira sensacionalista, até que um dia, num dos acidentes que foi cobrir, era seu irmão estendido no chão, morto. Só aí ela aprendeu a respeitar a imagem da pessoa que passou pela situação que viraria notícia e a sua família. O ideal é que os profissionais da imprensa não precisem passar por situações como essa para entenderem que é preciso respeitar a pessoa que está ali, viva ou não. Que essa pessoa também tem direitos (no caso de viva), família e amigos, e que essas pessoas não precisam – e muitas vezes nem querem! – ver a situação em que ficou.