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Coluna do Emílio Gonzalez: Menores em conflito com a lei, cristãos em conflito com Cristo. Quem tem a razão?

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Embora não existam pesquisas específicas (ou consolidadas) sobre os elementos que discuto abaixo, irei fazer uma colagem de dados publicados recentemente sobre o perfil do brasileiro típico:

  • Somos um país de maioria esmagadora cristã. Pesquisa divulgada pelo IBGE em 2012 (relativa ao censo de 2010) indicava que 86,8% dos brasileiros se declaravam cristãos, dos quais 64,6% católicos; e 22,2% evangélicos.

Desde as últimas décadas, a curva de crescimento dos evangélicos tem sido considerável, colocando em alerta e exigindo ações mais efetivas das lideranças católicas no Brasil. Importa notar que o crescimento evangélico se deu sobretudo no setor neopentecostal, que abarca sobretudo a população mais pobre e setores médios emergentes (a “nova classe média”). Aqui, estão pastores midiáticos e showmans como Silas Malafaia (Assembleia de Deus), Edir Macedo (Universal do Reino de Deus) e Valdemiro Santiago (Igreja Mundial do Poder de Deus).

  • Pode se tratar de mera coincidência, mas um número muito parecido ao de cristãos citado acima (86,6%) foi divulgado em outra pesquisa, feita pelo Instituto Datafolha. Nela, 87% dos brasileiros dizem apoiar a redução da maioridade penal. A matéria foi recentemente aprovada numa Comissão interna do Congresso Nacional, e contou com forte lobby dos grupos cristãos lá organizados (a chamada “Bancada Evangélica”, embora seja constituída também por católicos). Muitos destes faziam parte da referida Comissão, e comemoraram a aprovação da matéria.
  • Outra pesquisa do Instituto Datafolha, realizada em setembro de 2014, indicava que 43% dos brasileiros também apoiam a pena de morte no Brasil. Já uma enquete realizada pelo portal Terra entre seus leitores, e que foi feita logo após a execução do brasileiro Rodrigo Gularte na Indonésia por tráfico de drogas, indicava que o apoio à pena capital subia para 80% em caso de tráfico de drogas.
  • Outro dado: apesar da propaganda, do apelo sensacionalista e do discurso raivoso e espumante de apresentadores como Marcelo Rezende e José Luiz Datena, menos de 1% dos crimes cometidos no país são feitos por menores de idade; e se levarmos em consideração apenas os mais graves (latrocínio, homicídio, estupro, etc), este numero cai pela metade. A maioria dos jovens e adolescentes são detidos por tráfico e/ou porte de entorpecentes (drogas) e outros crimes considerados menos graves (agressão, pichação, furtos, etc.).
  • Para finalizar essa parte, é necessário também destacar dados do IBGE sobre a concentração de renda e a setorização da pobreza no Brasil. Um levantamento feito em 2014 indicava que, embora a concentração tenha diminuído na última década, 10% dos mais ricos ainda concentram 41,7% do total da riqueza nacional. Enquanto isso, 40% dos mais pobres dividem apenas a 13,3% da riqueza. Outra pesquisa de 2012 dá rosto a essa pobreza: dos 10% mais pobres da população, 75,6% eram negros, e 23,5% pardos. Já entre os mais ricos, na elite da elite (se considerarmos apenas os 1% mais ricos da população brasileira), esmagadores 81,6% são brancos. Os poucos negros ou pardos que lá se situam, naturalmente, são cantores, jogadores de futebol e operadores do show business midiático que tanto conhecemos.

O que estes números indicam é que somos um país estranho, onde cristãos apoiam linchamentos públicos de pretos e pobres, acham que “bandido bom é bandido morto”, (ignorando o próprio exemplo de Cristo, na derradeira hora de sua morte), defendem o aumento do poder punitivo do Estado e das forças de repressão (policiais), e entendem que a solução para resolver a criminalidade precoce está em simplesmente colocar jovens e adolescentes nas masmorras do sistema carcerário brasileiro, que não recuperam nada; mas, ao contrário, são apenas “escolas de bandidos”.

Em entrevista ao jornal El País (Espanha), Joel Birman, psicanalista e professor da UERJ, explicava os insistentes comentários nas redes sociais apoiando execuções policiais e pena de morte em outros países (como a de Rodrigo Gularte): “Esses comentários são feitos principalmente por grupos conservadores da classe média brasileira. Eles espelham uma demanda por mais repressão contra grupos que no seu imaginário são as fontes da violência.”

Fica difícil dialogar com quem defende a diminuição da maioridade penal sem levar em consideração a concentração absurda de rendas e a setorização da pobreza.

Fica difícil entender o que existe de cristianismo na defesa da pena de morte sem que se discuta os fatores que geram a criminalização e setorização da pobreza entre grupos específicos da sociedade.

Fica difícil ponderar qualquer assunto dessa natureza com quem defende a pena de morte, esquecendo que o próprio fundador do cristianismo foi vítima dela, e de um Estado igualmente desigual e punitivo como o Romano.

E pensar que dias atrás, num churrasco de confraternização, um colega de trabalho bebia uma cerveja com seu filho de 17 anos. “Você não liga de dar bebida a seu filho?” “Não. Prefiro que ele beba aqui comigo, dentro de casa, moderadamente, do que na rua, com más companhias.”

Como se percebe, o problema não é e nem jamais foi o consumo de drogas, álcool ou qualquer outra prática proibida pela lei; a diferença são as companhias, ou a inexistência de uma família estruturada. Numa favela ou periferia típica, menores crescem sem seus pais, por motivos adversos à sua vontade. Aprendem a beber na rua. Aliás, aprendem a beber e a fazer outras coisas também. Quem bebe em casa com a família estruturada e dirige o carro do papai sem carteira, futuramente, fará parte da turma que se intitula “cidadãos de bem”. Os que crescem nas favelas jogados nas ruas e não tem a companhia dos pais para dividir experiências e descobertas, serão os futuros “mau elementos”.

Para os primeiros, uma vaga na faculdade e um emprego digno os espera; e mesmo se um dia chegarem a errar, serão compreendidos, perdoados e terão a chance de se regenerar em casa ou numa clínica particular, com orientação psicológica, estrutura médica, incentivo e boas companhias.

Para os menores favelados e marginalizados, aumenta cada vez mais, a chance de tentar sua “regeneração” na prisão, em companhia de estupradores, assassinos, traficantes e assaltantes da pesada.

Se não conseguirem, paciência. A pena de morte pode ser seu horizonte.

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