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Coluna do Wesley Ribeiro

Coluna do Wesley Ribeiro: Contra os cristãos que pretendem impor os seus valores religiosos a toda a sociedade

PME

Do que trata a tão polemizada Meta 12 do Plano Municipal de Educação? Dentre outras coisas (inclusão social, direitos humanos, superação das desigualdades educacionais, promoção da cidadania, educação étnico-racial, do campo e indígena), ela trata da erradicação de todas as formas de preconceito. Creio que nenhum cristão dir-se-ia contrário a isto, não é verdade? Que grande problema eles têm visto nesta Meta do Plano de Educação, então? Tomemos em consideração o próprio texto da Meta – caro leitor, se você tem tomado partido junto às igrejas de nossa cidade na crítica que têm feito ao Plano Municipal de Educação, que tal você mesmo ler, no mínimo, a tal Meta 12 do Plano, e deixar de reproduzir as besteiras que muitas pessoas têm dito por aí?

O objetivo que caracteriza esta Meta é “estabelecer ações fortalecedoras em toda a Educação do Município de Campo Mourão que contribuam para uma prática educativa com ênfase na promoção da igualdade étnico-racial, de gênero, de orientação sexual, religiosidade (…)”… Hum! Talvez seja aqui que “o bicho tenha pegado” para os cristãos! A lei fala em orientação sexual! Estaria, o nosso legislativo municipal, pretendendo transformar todas as nossas criancinhas em gays e lésbicas?! Que terrível! Isto não é pecado?! Pergunto: é este o receio dos religiosos mouraoenses?            Notem: fala-se em promoção da igualdade também em relação aos gêneros e à orientação sexual. O que isto significa? Tomemos em consideração as estratégias estipuladas pela Meta 12: de um modo geral, o que elas preveem é uma série de ações que visam o combate a todas as formas de preconceito e discriminação (incluindo-se, entre elas, o preconceito e a discriminação de gênero e de orientação sexual) e a violência decorrente do preconceito e da discriminação. Os cristãos não deveriam ser favoráveis ao combate contra toda forma de preconceito e discriminação, inclusive o de gênero e o de orientação sexual? Pergunto: Cristo deixaria que apedrejassem os gays, as lésbicas, etc. ou diria: “quem não tem pecado algum que atire a primeira pedra”? Dito de outro modo: o próprio Cristo não seria favorável ao combate contra o preconceito e a discriminação – que geram violência?! Talvez não seja este o ponto. Consideremos, por isso, o que os líderes religiosos falaram a respeito.

Uma das coisas que disseram é que o objetivo do Plano é a destruição da família. Estaria o próprio Diabo por trás desta iniciativa legislativa? É bem provável… Acabar com a família só pode ser coisa do Belzebu… Para os religiosos, trata-se de um problema moral. O problema com os religiosos, os cristãos, é que, para eles, há somente uma moral válida e ela deve ser imposta a toda a sociedade. Vocês arriscariam-se a dizer qual? Para eles, tudo o que não é cristão é imoral e está condenado ao inferno – os que apoiam o presente Plano Municipal de Educação queimarão no inferno, segundo o pastor Arnildo Klumb, presidente da Ordem dos Pastores de Campo Mourão.

Parece que os cristãos estão dizendo que, por trás da letra do Plano, do que está sendo positivamente dito nele, há uma “ideologia de gêneros”, contrária à moralidade religiosa. O problema aqui é que, além de não mostrarem tal ideologia, que estaria presente no Plano, a moralidade cristã também é uma ideologia e eles precisariam dizer por qual razão deve-se aceitar uma e recusar-se a outra. Mas eles não apresentam razão alguma. Parece que o “argumento” é o seguinte: porque o Plano fala em gênero, há a tal ideologia de gênero subjacente a ele. Então exigem que a plavra gênero seja retirada do Plano! Este não é um raciocínio demasiadamente simplista?

São tantas as besteiras que ouvi, por parte das pessoas religiosas de nossa cidade, que não tenho espaço, tempo e paciência para citá-las todas. Por isso, vamos ao ponto principal da questão: o que não podemos aceitar é que as igrejas, quaisquer que sejam elas, queiram impor a sua moralidade à sociedade como um todo. Já faz tempo que gozamos de liberdade religiosa no ocidente! Já faz tempo que o Estado laicizou-se! Quer ser cristão, por medo do inferno ou por um motivo mais digno, seja, mas não queira impor seus valores a todos! Não queiram legislar tomando como princípios os seus dogmas – tão controversos! Defender o combate ao preconceito e à discriminação é agora ideologia de gênero?

 

3 Comentários

3 Comments

  1. Arnildo Klumb

    16 de junho de 2015 às 17:26

    Você leu a meta 12 original? O que é pra você um plano baseado nos princípios de Yogyakarta?

    Meta 12

    Estabelecer ações fortalecedoras em toda a Educação do Município de Campo Mourão que contribuam para uma prática educativa com ênfase na promoção da igualdade étnico-racial, de gênero, de orientação sexual, religiosidade e na garantia de acessibilidade atitudinal, conforme o artigo 26 da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, e os Princípios de Yogyakarta de 2007 (ONU, 2007).

    E outra coisa meu caro filósofo: O jornal tribuna já se retratou do que postou sobre a frase sem contexto que colocaram em minha boca: http://src.odiario.com/Pdf/2015/06/15/nota-ao-jornal-tribuna-do-interior.pdf

  2. Wesley Ribeiro

    19 de junho de 2015 às 14:57

    É evidente que eu li o Plano, senhor Arnildo Klumb, o texto original, anterior à modificação proposta por vocês, críticos da “ideologia de gêneros”.
    Sobre a pergunta que fez, creio que o senhor devesse respondê-la por primeiro: o que é, para você, um Plano baseado nos princípios de Yogyakarta? Posso imaginar que dirá: é um Plano que defende a ideologia de gêneros. Pois eu peço novamente que mostrem-nos isto: onde estava, na Meta 12 do Plano, e onde está, nos princípios de Yogyakarta, aquilo que vocês chamam de ideologia de gêneros? De meu lado, posso dizer que não vi a tal ideologia de gêneros no texto da Meta 12, assim como não reconheço o que vocês têm chamado de ideologia de gêneros nos princípios de Yogyakarta. O que eu vi foi uma defesa do combate ao preconceito e à discriminação.
    O que penso, resumidamente, é que vocês podem educar suas crianças como considerarem melhor, mas não podem impor o seu paradigma ético a toda a sociedade, o seu conceito de família a toda a sociedade. Como disse em meu texto e em minha fala na audiência pública: o que vocês estão defendendo também é uma ideologia; sendo assim, deveriam ter mostrado, no mínimo, por que a sua ideologia é a melhor, por que a sua moralidade é a melhor, por que o seu conceito de família é o melhor. (Aliás, vocês não o consideram o melhor, vocês o consideram o único válido.) Mas fizeram de conta que o cristianismo está fora de qualquer polêmica e que ele não é uma ideologia.
    Os religiosos têm o direito e o dever de participarem da política, como qualquer outro cidadão, mas não podem pretender legislar a partir de seus dogmas religiosos.
    O que vi, da parte de vocês, na audiência pública sobre a Meta 12, foi um discurso completamente falacioso: apelaram para a fé das pessoas, não para a razão; mas, no âmbito da política, como o Estado é laico e nem todos têm as mesmas concepções religiosas e morais, deveriam ter apelado à razão, quero dizer, deveriam ter apresentado argumentos consistentes, não meras falácias.
    Sobre o senhor ter dito que os defensores da ideologia de gêneros estariam condenados ao inferno, pergunto: é mentira? O senhor não pensa assim? Caso não seja esta a sua opinião, peço desculpas, realmente baseei o que disse sobre isto na matéria publicada pelo Jornal Tribuna do Interior.

    Estou à disposição para aprofundarmos o debate. Aguardo sua resposta às perguntas que fiz.

    Amistosamente.

  3. Wesley Ribeiro

    19 de junho de 2015 às 15:02

    Esqueci de uma coisa, senhor Arnildo Klumb: obrigado por ter lido meu texto e ter deixado aqui seu comentário!

    Um abraço!

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