Para aqueles que defendem o retorno à ditadura, eis uma exemplar (no sentido de que nos serve como exemplo, apenas) demonstração do que é um regime autoritário: as últimas ações de Richa e todos aqueles que, manifestamente ou veladamente, concordam com a sua forma de agir, a sua forma de “fazer política”, incluindo-se entre eles, o próprio Partido da Social Democracia Brasileira (o PSDB) e todas as demais instituições que manifestaram-se a favor do governador paranaenese ou calaram-se diante dos fatos ocorridos na última semana, em Curitiba, aos arredores da Assembleia Legislativa do Paraná. O governador e seu partido ainda têm a ousadia de dizer que, o que fizeram, foi em defesa da democracia. (Veja-se, a respeito disto, o que havia sido publicado no site do PSDB do Paraná, na quarta-feira, dia do ataque violento contra os professores. No site nacional do PSDB não havia nada a respeito.) Isto nos mostra o que é, para eles, a democracia: “Somos representantes legítimos do povo, ou seja, uma vez eleitos, legislamos como quisermos, ainda que a vontade do povo não coincida com a nossa e, sempre que é preciso, usamos a violência física e moral contra aqueles que ousam tentar nos impedir de legislar em favor próprio”.
Os trabalhadores diretamente afetados pelo projeto aprovado à força, por meio da violência e, por isso, de modo algum democraticamente, rejeitam o projeto. Vejam bem: o dinheiro da previdência pertence aos trabalhadores contribuintes. O fundo previdenciário chamado Paraná Previdência foi criado exatamente para garantir a aposentadoria dos servidores públicos do Estado do Paraná e para, ao mesmo tempo, isentar o Estado paranaense de um custo maior sobre estas aposentadorias. Mas o governo e seus aliados ignoraram a rejeição do projeto por parte dos trabalhadores que seriam diretamente afetados pelo projeto. “Enfiaram”, por meio da violência física e moral, o projeto “goela a baixo” dos servidores públicos paranaeneses. A Assembleia Legislativa foi cercada pela polícia e a polícia agrediu fisicamente os servidores com bombas, balas e cacetadas. Mas é preciso compreender que esta não foi uma decisão da polícia (não que isto livre os policiais que cumpriram as ordens do governador de um julgamento moral e até criminal), mas eles cumpriram ordens do governador; e se, para impedir que os manifestantes ocupassem a Assembleia Legislativa, usaram bombas, balas e cacetadas, foi porque havia uma ordem do governador para que eles usassem as bombas, as balas, as cacetadas e os cães para impedir que os manifestantes ocupassem a Assembleia. Isto é muito grave. É necessário que o caso seja investigado e que os responsáveis sejam julgados e penalizados.
O que nossos tiranos estão nos dizendo por meio da forma como fazem política? “Nós sabemos o que é melhor para vocês, povo estúpido! Portanto, aceitem passivamente nossas decisões, nossos projetos, caso não queiram sofrer violência, caso não queiram ver seu sangue derramado! Pois a democracia só existe enquanto vocês concordam conosco ou, no mínimo, durante o tempo em que vocês permanecem inertes diante de nossas decisões! Saibam que, ao tentarem impedir o nosso livre exercício da vontade (que é a vontade de um soberano mais ou menos como era o soberano de Thomas Hobbes, o absoluto Leviatã), ainda que nossa vontade seja indiferente a de vocês, vocês serão violentados, sofrerão o castigo merecido!” Assim dizem nossos senhores – “senhores” porque, como disse o filósofo Maurice Merleau-Ponty em suas Conversas (Tradução de Eva Landa e Fábio Landa. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2004, págs. 51 e 52): “vejamos o que são realmente as relações de uns com os outros nas nossas sociedades: a maior parte do tempo, relações de senhor e escravo”.
É isto que querem para o país, caríssimos leitores?