Eu gostaria de expor, neste texto, o aspecto central de minha forma atual de encarar a vida, com o objetivo de que ela fomente a reflexão, em meu leitor, sobre a existência. Não sou um homem religioso, mas não sou também um antirreligioso. Na prática, sou um ateu, porque não cultivo nenhuma prática religiosa, mas minha posição quanto à existência ou não existência de um deus é agnóstica, dado que creio não podermos provar que ele existe assim como não podemos provar que ele não existe. Para mim, portanto, é uma questão de fé, não de razão, a crença na existência de um deus. Entretanto, a fé parece, para mim, uma espécie de dom, do qual eu não disponho ou do qual disponho minimamente. Quero dizer que, comparativamente a outras pessoas, minha tendência a acreditar em certas coisas, como a existência de um deus, ou é muito pequena ou não existe. É por isso que digo que, na prática, sou um ateu. Realmente não alimento uma crença em deus; na verdade, nem mesmo verifico em mim uma tendência a acreditar em sua existência.
Pode parecer aos crentes que uma vida como a minha, vivida sem a crença em deus e também sem a crença na imortalidade da alma, seja uma vida miserável. É preciso confessar que, a partir do momento em que não acredita-se na imortalidade da alma, a experiência de nossa finitude é aterradora – na verdade, creio que esta experiência seja aterradora mesmo para aqueles que creem. Acredito não haver algo mais terrível para nós que a consciência de nossa finitude, a consciência de que vamos morrer – todos nós. É difícil encarar a morte. Ela é toda poderosa diante de nós; não somos capazes dela fugir ou esconder-se. Para os crentes, a convicção de que há uma vida após a morte traz algum alívio e conforto diante da consciência de nossa finitude. Todavia, pretendo mostrar a vocês, meus leitores, que minha perspectiva sobre a vida talvez possa ser até melhor do que a dos crentes.
Os crentes vivem a vida, muitas vezes, sem dar a ela o devido valor, penso eu: a vida que virá depois da morte é a que ele espera para ser feliz. Eu, porque penso que, provavelmente, esta seja nossa única oportunidade para vivermos e que, provavelmente, depois de nossa morte nada nos espera, vivo esta vida considerando-a como uma experiência única e vejo meu tempo aqui como um tempo que deve ser aproveitado com sabedoria. Parece-me que os crentes não dão muito valor para o tempo de que dispõem na vida presente. Para mim, o fato de eles aceitarem subservientemente as condições atuais do mundo é uma prova disto: “a vida que vem depois da morte é melhor que esta, nela não haverá sofrimento” – pensam eles, não fazendo nada ou fazendo muito pouco para melhorar a vida presentemente vivida.
Para eles, a vida presentemente vivida é apenas uma preparação para a vida eterna. Para mim não. Para mim, como talvez não haja uma vida após a morte, é preciso viver a vida com prazer, buscando dedicar-se apenas àquilo que realmente tem valor e fazendo as coisas sempre como se fosse a última vez; é preciso viver-se intensamente, como dizem; mas isto não significa abusar das drogas, frequentar muitas baladas, consumir. Eu que não tenho valores pré-estabelecidos por qualquer livro sagrado, preciso estabelecer meus próprios valores. (Pois é! Pode parecer novidade para alguns, mas ateus e agnósticos também têm valores morais!) Procuro viver a vida do modo mais sereno possível, mas, como vejo que o mundo não vai bem, sinto-me impelido a procurar contribuir para sua reforma ou transformação. Como não tenho esperança em um paraíso vindouro, procuro fazer o melhor de minha vida e, ainda que eu não creia em um deus, sinto-me muito grato pela possibilidade de existir – ainda que esta possibilidade não mais se repita.
Edilson Luis Fernandes
8 de julho de 2015 às 12:45
Penso exatamente igual! Faço minhas suas palavras
Wesley Ribeiro
17 de julho de 2015 às 10:44
Legal, Edilson! Eu não sabia desta sua postura!