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Política

Lobão e o seu Banana’s Party colocam PSDB numa cilada histórica

Reproduzido do blog do Prof. Dr. João Fábio Bertonha 

lobão-manifestações-avenida-paulistaFaço aqui um plágio assumido do título do texto publicado ontem pelo Renato Loval na revista Fórum (http://www.revistaforum.com.br/blogdorovai/2014/11/02/lobao-e-o-seu-bananas-party-colocam-psdb-numa-cilada-historica/), pois ele reflete sobre temas sobre as quais eu também venho refletindo há algum tempo e que a última eleição deixou ainda mais claras. O texto dele tem a sua organicidade e suas reflexões próprias, mas o indico já de início como próximo das minhas próprias.

Mais uma vez, o cenário político brasileiro se aproxima do americano, ainda que não esteja claro, para mim, se isso se deve à formação histórica semelhante dos dois países ou pela influência imensa do modelo americano na sociedade brasileira. De qualquer forma, com as especificidades próprias de cada país, certos processos históricos parecem estar se repetindo.

Nos EUA, desde Roosevelt, o pensamento progressista (no caso americano, identificado como liberal, extremamente reformista) foi o dominante no cenário político. Os democratas conseguiram dar uma resposta razoável à crise de 1929, vencer a Segunda Guerra Mundial e, no período pós-1945, inúmeras conquistas em termos de direitos civis foram obtidas, além das conhecidas mudanças comportamentais dos anos 1960. Até mesmo alguns tênues esboços de um welfare state surgiram e, aqui e ali, a sociedade americana começou a mudar.

Nos anos 1970, começou o contra-ataque da direita, em suas várias formas e formatos. Percebendo que eles só poderiam voltar ao poder vencendo o pensamento dominante (da esquerda, do partido democrata), eles se lançaram a um trabalho lento e contínuo, muito bem financiado, para ir ocupando espaços na Academia, na mídia, nas Igrejas, etc. Um processo que acabou dando certo e que teve o seu ápice na eleição de Reagan, a qual consolidou e reforçou o avanço da direita no comando do país. Desde então, entre idas e vindas, o pensamento da direita tende a ser dominante nos EUA, sendo que os presidentes democratas (Clinton, Obama) só foram eleitos porque também o partido democrata acabou por caminhar na direção do centro político, ainda mais do que sempre esteve. Os democratas acabaram por se converter em um centro-esquerda quase ao centro, enquanto os republicanos continuavam centro-direita, mas caminhando para a direita, até para acomodar os militantes mais radicais que eles mesmo haviam criado.

Esse partido republicano representa uma parcela considerável do eleitorado americano e, nos anos 1980 e 1990, fez o que pôde para continuar no poder e bloquear os governos democratas. Até ai, faz parte do jogo. Mas os republicanos, nessa época, continuaram, em geral, a participar do sistema, do modelo americano, que implica em dois partidos em duras e contínuas negociações para se chegar a um consenso mínimo. Assim, por mais que os democratas tentassem tornar difícil a vida de Bush ou os republicanos a de Clinton, havia espaço para alguma conversa e propostas comuns.

A eleição de Obama mudou isso. Uma parte considerável do eleitorado da direita estava tão radicalizada que a eleição de um presidente negro e “comunista” (como se um Lênin africano estivesse desembarcando na Casa Branca) simplesmente fez a pressão explodir. Surgiu então, dentro da direita (e aqui podemos incluir desde radicais ultraliberais a neonazistas, fanáticos religiosos, amantes das armas e mil e uma facções outras) uma fúria, um ódio incontrolado que levou a muita agitação e a formação de um grupo, o Tea Party, dentro do Partido Republicano.

Esse grupo deu força aos republicanos, pois é uma tropa de choque, uma força – novamente, muito bem financiada por grupos empresariais – capaz de se mobilizar para campanhas, passeatas e que usam de toda e qualquer arma contra seus inimigos, incluindo difamação na mídia, ameaças físicas, etc. Cortejados por Bush, colaboraram para sustentar o Partido Republicano e para fazer do governo Obama o pálido simulacro de mudança que ele foi.

O curioso, contudo, é que, entre os inimigos do Tea Party, estão incluídos até os republicanos moderados, aqueles com os quais os democratas conseguiam, ao menos, conversar e negociar. A visão de “inimigo” do Tea Party é tão ampla que, como alguns brincam nos EUA, Ronald Reagan teria sido considerado um perigoso comunista por alguns deles. Mesmo tendo pouca força eleitoral direta, o Tea Party tem conseguido pressionar e chantagear os moderados republicanos a tal ponto que o Partido tem caminhado mais e mais a direita.

Isso tem se tornado um grave problema para a democracia americana, pois um sistema que se baseia na busca do consenso e na negociação trava se um dos lados recusa toda negociação e todo o consenso. E, no limite, isso pode acabar levando o próprio Partido Republicano a um colapso, pois, quando mais ele caminha para a direita, menos eleitores moderados tendem a votar nele.

Vejo algo semelhante a ocorrer no Brasil. Como já escrevi antes, a eleição de Lula causou um terremoto no Brasil e a direita, assustada, se reorganizou na mídia, em algumas Igrejas, etc. Lutando e vencendo a guerra cultural, ela quase retomou o comando do Estado em 2014, só perdendo por poucos milhões de votos. E esses milhões de votos vieram, é provável, da reação provocada pela sua franja mais radical, que, ao disseminar o ódio e o preconceito, recebeu uma resposta contrária que, ao fim, venceu.

Pergunto-me, até, o que teria acontecido se Aécio Neves tivesse esquecido esse grupo raivoso e a carta batida de “PT: maior máquina de corrupção do Brasil” e tivesse elogiado o que o PT fez de bom, mas indicando que ele não cometeria os mesmos erros.   Se ele, de forma civilizada, elogiasse o PT pelo que foi bem feito e o criticasse pelos erros (que foram inúmeros) em 12 anos no poder. Ele o fez, mas a sua campanha acabou dominada pelo discurso do ódio (que levou ao contra-ataque) de tal forma que talvez tenha sido ai que ele perdeu a eleição.

O movimento que agora surge, com Lobão e outros semelhantes no comando, não precisa assustar ninguém. Uma intervenção militar não vai ocorrer, a Dilma não vai sofrer impeachment (nem há motivos jurídicos para pensar nisso, imagine-se em termos políticos) e o PT, espera-se, aprenderá a se defender. Mas e o PSDB? Meu medo é que ele incorpore esse discurso de desconfiança do processo democrático e do ódio como seu, de maneira a tentar reconquistar eleitores. Não creio que haja como um Banana´s Party crescer no Brasil, mas, se isso acontecer e o PSDB vestir a camisa, vejo um Partido Republicano B se formando.

Isso será mal para o partido e também para a democracia brasileira. Por mais que discordemos deles, um partido de direita é útil para não existir apenas um discurso único e para que a crítica e o divergente surjam. E, mesmo eu tendo militado para eles não voltarem ao poder, tê-los por perto incomodando e fazendo suas críticas (nem sempre incorretas, ao menos no diagnóstico) é bom para a democracia. Isso desde que o PSDB – que, como o PT, também caminhou para a direita, com o PT na centro-esquerda e o PSDB de hoje no centro-direita – permaneça um partido defensor do sistema democrático, com respeito ao resultado das urnas, dos direitos das minorias protegidas pela Constituição, etc. Uma direita liberal-democrática é salutar para um país. Uma minada e dominada pela direita radical não. Com uma direita democrática e com argumentos, se dá para conversar. Com uma que pede o fim da democracia se o resultado eleitoral não satisfaz e cujo horizonte cultural é ler Veja (o suprassumo da imbecilidade midiática nacional), não.

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